Vou deixar algumas dicas práticas que funcionam para mim e me ajudam a ganhar tempo em cada trabalho. Para estudantes, amadores e profissionais da área.

1.       Arranjo significa Viabilizar. (Ian Guest)

2.       É uma nova roupagem e às vezes soa como uma nova música, mas tem que ser feito com o intuito prático de fazer com que aquela música se torne executável e soe bem para quem ouve.

3.       Arranjo é uma obra de arquitetura e um processo de engenharia que requer boas doses de tempo, intelecto e mente fria pra calcular cada momento da música, o peso de cada instrumento para cada momento e aonde você quer chegar, ou seja, qual o objetivo dessa obra.

4.       Pra qual tipo de audição é esse arranjo? É pra tocar todo dia ou para uma ocasião específica? Se for específica, quem é o público para essa ocasião?

5.       Qual o nível de músicos que irão executar essa obra? Tem que pensar bem nisso se for por encomenda. Não adianta criar uma obra inviável. Ao mesmo tempo tem que se pensar no contrário, que é, não fazer um arranjo que está musicalmente com a execução abaixo do nível de músicos que você irá destinar. Isso não tem a ver com dificuldade, pois às vezes a música não é para ser difícil, mas o cuidado é para não fazer ela com nível de distribuição para novatos quando você tem um excelente grupo.

6.       Quantos minutos essa obra deve ter? Se for para um dia específico tem que medir bem isso. Mas uma vez é importante em qual ocasião ela será tocada.

7.       É importante a escolha do tom específico para o grupo que vai executar. Tem casos que se for tirado de um cantor a música pode estar em Mi, pode não ser muito interessante para instrumentos de sopro a não ser que seja para acompanhar um cantor. Cada caso deve ser observado com cuidado.

8.       Não crio grades de todos os instrumentos.

9.       Abro dois sistemas para piano e se o arranjo for bem mais sofisticado com várias linhas independentes, crio três sistemas. Nunca usei mais que isso.

10.   Como estou com pianos abertos, não penso em instrumentos específicos, penso apenas na canção e como ela deveria soar, para isso no caso de uma big band ou banda sinfônica não penso em sax ou metais, apenas no som de cada sistema.

11.   Começo sempre escrevendo a melodia, depois harmonia e depois linha de baixo. Isso já é a base para o arranjo, mesmo que depois sejam modificados, precisamos de um ponto de partida.

12.   Nesse ponto do arranjo já é um bom momento para mapear a música, criando as letras (A, B, C, etc) ou números sequenciais.

13.   Sempre coloco travessão duplo em letras e sinais como S e O.

14.   Depois de melodia, harmonia e linha do baixo, começo a escrever as linhas melódicas secundárias ou o contraponto, como é chamado.

15.   Só então distribuo como as vozes harmônicas serão abertas, pois elas dependem também do estilo e ritmo para serem colocadas.

16.   A música precisa de introdução e final, normalmente esses dois pontos tem a ver com o toque pessoal de cada arranjador. Procuro colocar ai umas pitadas pessoais, mas isso não é regra, pois depende da encomenda.

17.   Não dobro escrita, do tipo uma melodia ou contraponto escrito em dois sistemas, lembrando que o piano é o resumo da escrita e não precisa de nenhuma dobra.

18.   Ainda sem pensar em um instrumento específico, me concentro na distribuição e posição das vozes para cada momento da música, se posição aberta ou fechada. Não se pode perder esse momento, pois se não as vozes vão se tornar monótonas e isso é ruim pra quem ouve.

19.   Ruim pra quem toca é quando as vozes não tem movimento rítmico, se torna um tédio ficar tocando notas brancas porque o arranjador pensa equivocadamente que o instrumento é um piano com sustain.

20.   Tento não confundir as funções de vozes harmônicas dos instrumentos com o piano por exemplo. Os dois podem ser sincronizados, mas em alguns momentos também independentes.

21.   Importante também é conferir a oitava exata em que a melodia deve ser tocada. Nesse caso como está “in concert” é mais fácil conferir.

22.   Confiro várias vezes o som real do arranjo, se não tem choques harmônicos ou mesmo erros de notas com bemol, sustenidos ou bequadros. Isso dá um trabalho se você não confere e vai passar o arranjo. Nota escrita errada é furada e vez por outra acontece. Mas tem que passar o pente fino toda hora.

23.   Conferida todas as notas e como tudo está soando, termina o processo de arranjo ou criação.

24.   Depois do processo de viabilização da escrita dos pianos, vem o processo de distribuir o arranjo para cada instrumento.

25.   Distribuo toda melodia, onde quero que ela esteja, altura, instrumento e até onde ela fica com cada instrumento.

26.   Vou para os contrapontos, pois eles são as melodias secundárias e precisam ser colocados antes das vozes harmônicas, caso contrário as vozes podem pesar demais ou de menos e faltar espaço para que os contrapontos soem bem.

27.   Distribuo as vozes, entendendo qual naipe contrasta com a melodia ou se essa melodia e vozes serão tocadas pelo mesmo naipe no momento específico.

28.   Colo o baixo que criei no piano, mas vejo se haverão dobras melódicas desse baixo para algum instrumento como trombone baixo ou barítono no caso de big band, ou mesmo tuba no caso de banda.

29.   Tem que conferir as colagens em todos os instrumentos porque no “control V” às vezes o que soa no piano não está na extensão correta do instrumento que está recebendo a cola. Por exemplo, um naipe de ataque quando você cola pra trompete e trombone, certamente terá que descer a oitava dos trombones, ou inverter os drops.

30.   Em alguns casos vale separar as divisões de vozes. Deixando de dividir no naipe e dividindo por vozes de naipes.

31.   Uma coisa importante é conferir o peso das vozes e dos naipes. Essa mixagem de arranjo se sair com peso comprometedor faz o arranjo perder o sentido, pois em primeiro lugar a melodia sempre é soberana, se essa estiver sufocada por má distribuição de vozes em naipes, isso pode complicar a audição e também a execução do músico, pois vai exigir esforço a mais que o necessário.

32.   Feito tudo isso, agora tem que extrair cada partitura.

33.   Esse é o terceiro processo, pois tenho que conferir a estética de cada parte, se sinais estão no lugar certo, se não estão se chocando letras, dinâmicas e acordes. Requer muita paciência, pois normalmente nesse momento às vezes é a hora que você quer se livrar das partes, mas esse é o momento que você está fazendo para o executor, e tem que ser bem feito, pois o músico deve receber o melhor possível para ler.

34.   Confiro também se não tem na ultima folha apenas uma linha ou duas. Não vale muito a pena deixar dessa forma, primeiro pela estética e outra pela economia de folhas. Nesse caso é bom reduzir um pouco a porcentagem da escrita.

35.   Imprimo o PDF a cada nova partitura, gerando arquivos para que possam ser lidos em qualquer computador que não tenha o software de escrita musical. Uso o “cute PDF”.

36.   Confiro também a porcentagem da grade, que normalmente deve cair entre 66% ou 55% caso tenham muitos sistemas na grade.

37.   Feito isso, uso o programa chamado GiosPSM para gerar em um só arquivo de PDF todas as partes.

38.   E assim feito tudo, é só mandar via e-mail para o cliente ou imprimir para tocar.

39.   Lembrando que um arranjo é uma obra tão valorosa quanto a música que dela está sendo arranjada, e é essencial guardar em dois ou mais lugares essa obra. Tanto em HD quanto em espaço virtual na rede como 4shared, dropbox ou google docs.

40.   Jamais esqueço que é o meu trabalho, história e imagem que vai impresso em cada obra, por isso não há porque fazer de qualquer jeito. Nossa obra é nosso portfólio e a credibilidade que vamos ter. Tudo é construído a cada novo trabalho.

41.   Um bom músico sempre estará insatisfeito com sua obra, ou sempre vai enxergar que aquilo poderia ficar melhor, mas deve ser terminada para ser executada.

42.   Não é bom temer as pessoas e suas opiniões, pois a sua obra se torna pública ao ser executada, por isso a concentração de se fazer tudo com muito cuidado, mas sem a ilusão que ela não será criticada e até mesmo esquecida por melhor que seja, pois dependendo da situação ela pode nunca vir a ser tocada.

43.   Já em outras situações ela pode vir a ser solicitada para ser tocada por outros grupos e então mais uma vez é bom lembrar, faça o seu melhor.

44.   Fazer arranjos faz parte de um ofício musical que requer muita paciência e nem sempre você tem todo tempo para apresentar o resultado deste. Por isso é sempre bom destinar muitas horas para isso, se concentrar em cada momento, pois o processo é único e não volta jamais, o que está feito em algumas horas será avaliado para sempre.

45.   Penso que os arranjadores devem valorizar muito seu trabalho, pois a execução de uma banda ou orquestra vem deste processo, muitas vezes executado nas madrugadas, no silêncio e na reclusão social. Você trabalha em silêncio para que sua obra seja ouvida por milhares de pessoas.

46.   Qual o valor da obra? Você é o arquiteto e engenheiro e somente você deve saber o quanto isso te custou e quanto vale, mas lembre-se que existe um mercado, e se você trabalha por encomenda deve prestar atenção em quem está encomendando e que você não está sozinho no mercado, e ele é competitivo, e isso já está a parte da obra musical e tem a ver em como você vai querer participar do mercado e quanto a sua obra é valorizada.

47.   Deixe as pessoas conhecer sua obra, seja ela cobrada ou gratuita. Publique, se houver licença para isso.

48.   Conheça seus direitos autorais na lei. Você como arranjador também está citado lá. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm

49.   Não deixe de pesquisar, se atualize para não perder espaço no mercado.

 

50.   Esteja sempre aberto para fazer seu melhor independente do estilo, você nunca sabe qual será a próxima encomenda.