A descoberta ou percepção obtida por Pitágoras alterou para sempre o sentido da música na humanidade. Pela ciência obtida e toda sua contribuição intelectual a música que percebemos hoje chegou até nós. Lentamente, por meio da pura escala Mesotônica, privilegiando o intervalo de quinta, apesar que hoje a quinta é tão irrelevante na harmonia moderna, podendo ser simplesmente suprimida em grande parte dos acordes com cifras a mais que x7.

Essa evolução dos sons que anteriormente tinha a terça maior e a sexta como dissonantes revela também a percepção intelectual humana que culminou de uma visão macro, onde a oitava e a quinta eram os pilares, assim como as visões totalitárias do certo e errado, do bem e do mau, ou de Deus e o diabo, assim como céu e inferno permearam por muitos séculos a consciência e imaginação humana, para uma visão cada vez mais menor, onde não apenas os intervalos percebidos foram além de percebidos, mas aceitos, e em paralelo a isso também a visão se desdobrou saindo de estrelas e planetas, para células, moléculas, átomos, núcleo, quarks e recentemente os bósons.

Assim na música a visão evoluiu para intervalos cada vez menores, inicialmente percebendo uma oitava dividida em duas partes e depois disso contendo 7 notas. Logo depois essa oitava foi percebida em 12 partes, chamados semitons e nos últimos tempos devido a música oriental ganharam popularidade os chamados microtons ou quartos de tons com uma oitava podendo ter até 144 sons.

Então a escala maior dentro desse universo de grandezas em intervalos e unindo o passado com o presente descoberto seria um tipo de marco 0, entre a música antiga e medieval e a música pós contemporânea.

A escala maior ganhou pela percepção humana diversos sentidos em suas melodias encontradas, ligando-se aos templos religiosos antigos em seus hinos de adoração, como também foi estabelecida nas marchas militares e ainda em todo o processo da música barroca, clássica, romântica, impressionista e moderna, alcançando o jazz nos EUA e o Samba no Brasil.

Seus sons estão presentes oficialmente nas rádios, em todas as produções cinematográficas em todo o mundo ocidental e em praticamente todo tipo de som com que se criou algum tipo de trabalho, a escala maior ocupa esmagadoramente o espaço musical usado.

Teoricamente todas as outras escalas no mundo ocidental são analisadas a partir da escala maior e mesmo os sons menores são oriundos dela. A percepção de um som perfeito menor parte do próprio sexto grau da maior e qualquer variação do tom menor também parte dela, como podemos ver nos modos gregos, dórico com ênfase no sexto grau e frígio, com ênfase no segundo grau menor.

Toda música ocidental é orientada em tons, maiores ou menores e mesmo na música regional onde o modalismo ocupa maior espaço, a escala maior básica com 7 notas domina o fenômeno da música que ocupa nossos ouvidos.

Podemos falar de diversas escalas regionais, como blues, (C Eb F F# G Bb), nordestina (C D E F# G A Bb), Árabe (C Db E F G Ab B C), ou das simétricas, como a de tons inteiros (C D E F# G# Bb), a diminuta (C D Eb F F# G# A B) e a aumentada (C D# E G Ab B), e ainda as duas menores com sétima maior, a menor harmônica ( C D Eb F G Ab B) e a menor melódica ( C D Eb F G A B), escalas que são amplamente aproveitadas no jazz e na improvisação, porém nenhuma dessas por mais ricas ou exóticas que sejam preencheu mais as contas bancárias da produção em grande escala nos últimos séculos, sendo todas elas submissas e analisadas sob a ótica da escala maior, que embora seja preenchida de 12 notas, foi tão divulgada e celebrada com irregulares 7 intervalos.

Podemos dizer ainda que ela trouxe um bem para a humanidade, porque se mesmo depois de todo o avanço tecnológico e intelectual que se obteve e ainda a percepção de diversas escalas nos últimos séculos, nenhuma escala ocupou esmagadoramente o centro dos sentimentos percebidos e os adjetivos que se pode musicar, como a escala maior.

O jazz, a música mais complicada e popular surgida no último século se valeu de toda estrutura da escala maior para sua evolução que passou por mudanças profundas de estilo, mas não alterando a raiz dos sons executados.

O Samba, o frevo, o choro, o pop e toda música instrumental ou cantada tem sua base nas notas e nos chamados tons maiores e menores, sendo oriundos da escala maior.

Não que esse padrão não possa ser alterado, mas ainda não se popularizou músicas sem tons e baseadas em escalas simétricas ou em quartos de tons.

A pergunta é: Até quando a escala maior dominará o sentimento humano?

Haverá algum momento na história da humanidade em que ela será lembrada apenas como um fato histórico ou tradicional e não usual?

Quais fatores seriam necessários para alterar a percepção humana e algum tipo de novo som permear a nossa ou percepção e sentimentos?

Seriam sentimentos humanos aqueles percebidos não mais a partir da escala maior?

São perguntas utópicas ou que pulsam em relação ao futuro da humanidade, porque sem dúvidas, a escala maior, marca um longo, muito longo período de nossa existência como sociedade organizada. Então não se sabe em qual momento ela continuará como reflexo musical e influenciando nossas percepções sobre o som e a vida.